Neto de peixe, peixinho é!
Admiração pelos avós traz incentivo e estimula a escolha da carreira profissional
Por Beatriz Vieira
Desde que foi declarado Dia dos Avós, 26 de julho nunca esteve tão cheio de amor. Muito além do tempero especial e do cafuné incomparável, esses velhinhos são grandes exemplos de superação. Em homenagem à data, o Estúdio Carreira buscou alguns netos que se inspiraram em seus avós para construir sua caminhada profissional.
Luca Moeller de 21 anos segue os passos de Oscarlino Moeller. Referência na área de advocacia, Oscarlino passou pelo cargo de promotor, juiz, desembargador e, mesmo aposentado, atualmente, presta serviços como consultor em três escritórios de São Paulo.
Ainda que este exemplo seja realmente inspirador, seus pais seguiram outra direção e se estabilizaram como influentes nomes da odontologia. Tal contraste poderia ter colocado em cheque a decisão de Luca, porém, seguiu firme em sua escolha. O avô nunca escondeu seu orgulho pelo neto e abre portas para debates sobre casos que encontram em suas jornadas trabalhistas.
Mesmo que nunca tenha se sentido atraído pela carreira de dentista, Luca assume que o avô foi essencial para decidir qual empreitada seguir, tanto como pessoa, quanto profissional. “Sem meu avô, provavelmente, teria feito economia, que era minha segunda opção”, explicou. “Por toda sua vida, sua história, eu o admiro muito e me motivo bastante para que eu possa atingir tanto o sucesso profissional que ele teve, quanto uma família como a que ele tem”, completa o aluno de direito da USP.
Com uma história um pouco diferente, Bruno de 40 anos é agente da Polícia Federal, assim com o seu avô. Apesar de nunca tê-lo conhecido pessoalmente, sempre ouviu suas narrativas empolgantes. ” Uma vez, meu avô perseguiu um criminoso e o prendeu em um dia de chuva em Petrópolis. O bandido jogou um pacote com dinheiro no rio da cidade e ele voltou ao local depois do flagrante, achou o pacote, levou para casa e secou cada nota com o ferro de passar”, conta o agente.
Apesar da situação difícil, o avô colocou a honestidade à prova e devolveu cada centavo. Mesmo que soasse óbvio o dever desta atitude, para Bruno, ilustra o ditado ele leva até hoje “se não te pertence, não pegue”. Ao ser aprovado pela PF, sentiu-se realizado por carregar parte de seu exemplo profissional: “Fico feliz por ter um pouco do meu avô”.
Um percurso diferente
A engenheira mecatrônica Bruna Menascé de 22 anos ingressou na universidade em busca de seguir a mesma vertente que seu avô, Sérgio Gomes. Trabalhar em grandes petrolíferas como o engenheiro químico da família parecia um sonho. Após o primeiro ano de faculdade, a estudante percebeu que estava na profissão certa, mas que seu caminho era um pouco diferente.
O avô de Bruna nunca se desanimou com a mudança, inclusive, busca trocar conhecimentos a cada dia com a neta. A engenheira conta que já pediu ajuda em matéria de cálculo ao jovem de 87 anos e que ele sempre procurou evoluir. “Ele é um cara super atual, gosta de entender como funcionam as coisas, mexer no computador, desmonta as coisas, procura tudo no Google…”, explica. Além de um modelo profissional, Bruna vê Gomes como um exemplo de vida: “Eu acho que quando ficar mais velha, se eu tiver metade da vontade de aprender dele e um pedacinho da memória que ele tem, já está ótimo!”
Virando a página
As histórias nem sempre acabam como o esperado, e isso não é sinônimo de fracasso. Natália Rossi, de 22 anos, é neta do grande jornalista Clovis Rossi e tentou seguir a profissão do avô, mas percebeu que não era exatamente o que ela queria. Apesar da paixão por escrever, Natália enxergou que seu grande sonho estava em outro caminho.
Ao longo do estágio que fez na área de comunicação de uma escola durante o primeiro ano da faculdade de jornalismo, percebeu que sua verdadeira vocação estava em ensinar pessoas. “Depois de um ano com 100% de contato com a área da educação, eu percebi que queria formar pessoas e fazer parte daquele universo incrível. Foi amor à primeira vista, ou melhor, à primeira entrevista”, descreve. Atualmente, Natália é formada em pedagogia e atua na área com o lema “do what you love, love what you do” – “faça o que ama, ame o que faz”, em tradução livre.
Não pense que foi tão fácil quanto parece. Clovis sempre apoiou Natália em ser feliz independente da carreira que ela escolhesse seguir. Porém, o avô é o verdadeiro exemplo de vida da neta e o medo de decepcioná-lo bateu à porta como uma visita inesperada. Para resolver essa angústia, os dois sentaram para uma conversa que acabou com um grande abraço.
Natália dá um conselho para quem está em uma situação parecida: “Só a gente pode viver a nossa vida, é a gente que vai trabalhar horas e horas por dia. É a nossa felicidade que está em jogo. Tenho certeza que depois do primeiro ‘susto’, a família irá perceber que você está feliz fazendo o que escolheu e irão te apoiar.”
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